EDUCAÇÃO É COISA SÉRIA. Se o Brasil tratasse de educação com
a seriedade com que parece falar dela, com certeza não estaríamos atravessando
uma grave crise ética, política e econômica. A visão sobre área começou a mudar
em Pernambuco nos últimos 12 anos. Com a implantação de uma política
educacional diferenciada, com foco em metas e resultados, passamos do 21º lugar
do país, ranking que ocupávamos em 2007, para o 1º lugar do país em 2015 no
Ensino Médio.
Esse ano o estado mais uma vez alcançou uma média superior à
média nacional. Esse resultado pode ser comemorado com ressalvas. Ainda falta
muito para atingirmos o nível dos países mais desenvolvidos, nossos alunos, no
geral, apresentam dificuldades em matemática e na língua materna, mas as
mudanças já podem ser sentidas.
A EDUCAÇÃO DE VENTUROSA FOI DESTAQUE NA REGIONAL DE
ARCOVERDE. No ranking regional a Escola de Referência em Ensino Médio Quitéria
Wanderley Simões obteve o 7º lugar, com um índice de 4,80 no IDEPE.
A ESCOLA CÔNEGO EMANUEL VASCONCELOS aparece na planilha com
o segundo lugar entre as escolas de Ensino Fundamental, tendo alcançado 5,25 no
IDEPE. A escola Cônego merece destaque não apenas pelo alto índice alcançado,
mas pelas adversidades que enfrenta há vários anos. Seus professores e alunos
estão sujeitos as dificuldades de salas apertadas, falta de espaço para atividades
esportivas, biblioteca em prédio separado da escola e esperam o cumprimento das
promessas do governo estadual de lhe entregarem um prédio próprio.
Só a dedicação de sua equipe gestora formada pelas
professoras Maria Rosely, Elaide Francisca e Joelice Maria, dos seus professores,
porteiros, merendeira e auxiliares e a confiança dos pais unida ao esforço dos
alunos justificam essa nota. A todos da escola os meus mais sinceros parabéns!
A REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO OBTEVE O PRIMEIRO LUGAR no
ranking das escolas que ofertam os Anos Finais do Ensino Fundamental, com 4,5
no IDEPE, e o terceiro lugar nos Anos Iniciais do Ensino Médio, com 4,7 no
IDEPE. Esse resultado tem sido construído ao longo dos últimos anos. Então,
para melhor compreender o trabalho que vem sendo desenvolvido no município, o
blog entrevistou a secretária municipal de educação, a senhora Sônia Diógenes
Tenório.
A rede municipal atende 2.968 alunos, espalhados por 26
creches e escolas nas várias regiões do município. Na sede da secretaria, 11
funcionários trabalham diretamente com o monitoramento de programas e na coordenação
desses programas e na formação continuada dos professores da rede. Logo na sala
recepção, nos deparamos com a seguinte frase: ‘A educação é a arma mais
poderosa que você pode usar para transformar o mundo”, uma fala do líder
sul-africano Nelson Mandela.
Na entrevista que você confere a seguir, conversamos com a
secretária Sônia Tenório para conhecer um pouco mais sobre a educação municipal
de Venturosa. Boa leitura.
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Secretária de Educação Sônia Tenório |
Sônia, você é
secretária de educação há um certo tempo. Vários anos nessa função lhe deram
experiência e uma visão privilegiada da estrutura da educação municipal.
Podemos dizer que essa experiência influiu para a obtenção desses resultados?
Com certeza, Emerson. Quando a gente leu o resultado eu
convoquei todos os diretores, porque nem sempre a gente tem contato com todos
os colegas, porque são colegas professores, aí eu disse a eles que estendessem
o meu cumprimento a todos os professores, porque eu acredito que a secretaria
de educação tem a sua parcela de responsabilidade, mas eu acho que quem faz
mesmo é o professor na sala de aula. Os parabéns, os agradecimentos que vem
para a gente tem que ser extensivos aos professores, porque eu sou professora.
Então eu penso assim, na minha sala de aula, o que eu faço com meus alunos é
independente se a secretaria está lá todos os dias ou se não está. Agora, eu
também reconheço que nós temos uma equipe aqui na secretaria de educação muito
comprometida. Nós temos problemas, claro, mas o compromisso é essencial. Você
cumprir com seu horário, com o que é estabelecido na escola, isso dá resultado.
Nós temos muitos colegas que não estão satisfeitos com a profissão, mas nós
temos outros tantos que são encantados com a profissão e nós trabalhamos com
todos eles. Os que não são a gente procura motivar e os que são, estimular mais
ainda. E acredito que isso seja essencial porque nossa categoria de professores
é uma categoria que sofre por não ser valorizada pelo conjunto da sociedade.
No caso a autoestima
do professor também é um fator que influi na aprendizagem dos alunos.
Eu penso assim. Você vê tantas coisas falando do professor,
mas eu não acho isso! As pessoas dizem assim: “não vai ter mais professor daqui há dez anos”, não é assim. Por que todo mundo diz que professor não ganha bem,
professor é humilhado, professor é maltratado, mas eu não vejo por esse lado.
Todo trabalho que sai de uma sala de aula é para o bom resultado. Nenhum professor
vai para uma sala de aula para continuar com seu aluno analfabeto. O professor
vai continuar a fazer um bom trabalho porque acredita no que faz e sabe o valor
do que faz! O que falta em muitos é justamente o incentivo, a motivação. Por
conta de tantos problemas que enfrentamos alguns vão se desestimulando, mas eu
acredito muito na profissão do professor e foram justamente os professore que
conquistaram esse resultado para o município.
Sônia, sei que você,
sua equipe e os professores da rede municipal sempre esperam bons resultados do
trabalho desenvolvido, mas esse resultado em particular, primeiro lugar entre
as cidades da regional, foi uma surpresa, não foi?
Foi sim, porque como a gente nunca deixa de ter problemas,
nas nossas avaliações sempre observamos aquelas salas que apresentam
dificuldades, a turma que ainda não está rendendo como a gente gostaria, mas
acredito que de tanto que acompanhamos e procuramos obter melhores rendimentos,
conseguimos esse resultado que foi inesperado. Nós sabíamos que o rendimento ia
ser positivo pelo trabalho desenvolvido na rede, mas ao ponto de numa
classificação com todas as escolas das redes municipais você se tornar o
primeiro lugar e o terceiro lugar.
Para não confundir o
leitor, vamos explicar essas colocações:
Nós alcançamos o primeiro lugar nos anos finais do Ensino
Fundamental e fomos terceiro nos anos iniciais.
Na classificação da
Gerência Regional.
Sim. Somos dezesseis municípios da regional de Arcoverde e
obtivemos esses resultados dentro da nossa regional. Aí questionaram porque Venturosa não foi receber
o prêmio em Recife. Porque não foi uma premiação do estado, que foi entregue
pelo governador e que foi feita pelo ranking geral de todos os municípios
pernambucanos. Agora na nossa regional, composta por dezesseis municípios, nós
ficamos entre os três melhores e eu acho que essa é uma classificação muito
boa.
E diga-se de
passagem, vocês conseguiram esse resultado com menos recursos se comparados a
outros municípios.
Eu ia citar esse realidade. Eu sempre digo aos meus colegas:
a gente faz muito com pouco. Você sabe que recurso de educação é para o básico.
As vezes você tem de escolher entre adquirir um material de melhor qualidade ou
fazer uma reforma em uma escola, dificilmente se consegue os dois em um mesmo
momento. O salário do professor já é determinado por lei, mas não podemos
esquecer que tem material didático, material de limpeza, temos reformas de
escolas, temos de atender toda uma demanda por manutenção.
Eu digo isso porque
enquanto professor vejo que nossa categoria sempre tem em primeiro plano a
questão salarial, que é essencial, e muitas vezes perdemos o foco de tudo que é
preciso para se manter uma escola.
É verdade, mas isso a gente só aprende quando ocupa uma
outra função. Por mais que a gente tente explicar ao colega, sempre se percebe
o salário como o elemento mais importante e que a prefeitura e a secretaria
arquem com o resto. Eu concordo que a questão salarial é importante, mas
estamos em sistema que nos engessa e não nos permite fazer como queremos. Se eu
pudesse escolher enquanto secretária, eu faria diferente e sei que seria
possível.
No caso falamos da
remuneração do professor. Se você pudesse, seria melhor?
Principalmente. Agora quando o governo libera recursos, nós
vemos que para o pagamento do professor vem aquilo que o governo quer mesmo
pagar, aquele piso salarial que ele estipulou e pronto. A gente sabe que
poderia ser melhor. Se pudéssemos acomodar melhor nossos alunos e professores,
ah, como seria bom! Mas o sistema nos engessou de tal forma que não permite nem
que nos manifestemos contra ele.
Quando eu converso
com gestores, como no seu caso, sempre pergunto sobre a decisão desse governo
federal de limitar os gastos. Na prática vai haver redução. Não é um problema?
Sim, na prática já está muito reduzido. Vamos tentar
entender. O município só pode gastar 54% com a folha de funcionários, e isso é
uma lei antiga. O fundeb só pode gastar 60%. Como é que o município só pode
gastar 54% com todos os seus funcionários e o fundeb 60%, criando uma disparidade, além de que o
gestor tem uma série de outras obrigações legais que não permitem fazer da
maneira que se quer, mas da forma que é possível. Depois que frequentei várias
reuniões e hoje faço parte do grupo gestor da UNDIME a gente passa a ver as
outras realidades e perceber que como existem situações melhores, também há
municípios que enfrentam situações muito mais difíceis que as de Venturosa. Os
municípios menores que estão no nosso patamar tem vivenciado realidades muito
difíceis para eles. Eles recebem recursos parecidos, mas não conseguem
apresentar os mesmos resultados.
Quem acompanha o blog
viu que uma equipe de Venturosa foi ministrar uma capacitação em outro
município.
Isso, o município de Aliança. Nossa equipe passou por algumas
modificações, mas cinco dos nossos profissionais trabalham juntos desde o ano
de 2005, então temos um grupo fortalecido. É comum que quando há troca de
prefeitos também haja troca geral nas equipes de alguns municípios e eles ficam
meio que perdidos, porque tudo é novo para todo mundo e os programas
educacionais tem de seguir com continuidade. Então, Venturosa tem mais esse
fator positivo. Sempre que há uma troca de gestores, os municípios menores
procuram por Venturosa. No caso da capacitação de Aliança, não foi a primeira
vez que fizemos, foi a primeira vez que teve destaque. No caso do programa em
questão, o Novo Mais Educação, Venturosa tem se destacado na sua execução, na
prestação de contas, nas experiências exitosas com o programa, então, ao apresentar
os resultados no começo do ano na Fundação Joaquim Nabuco, a coordenadora do
programa perguntou se Kécia e José Leonilo poderiam auxiliar outro município.
Aliança foi um desses municípios que trocou toda a equipe e não tinham nenhuma
experiência com o programa Novo Mais Educação.
Quando essas trocas de equipe ocorrem, nós das redes
municipais procuramos nos ajudar. Eu mesma estive na Pedra, já na administração
de Osorinho, para falar sobre Plano Municipal de Educação e Plano de Carreiras
e Remuneração. Como nós temos um caminho andado, documento pronto fomos ajudar
porque havia lá uma dificuldade nesse sentido.
São ações importantes
e pouco conhecidas
Eu sempre digo que a gente faz muito com pouco e que também
faz muito e não divulga. É uma falha nossa enquanto secretaria.
Ia tocar nesse ponto.
Políticas públicas são muito visíveis porque muitas pessoas dependem delas. E o
que fica mais evidenciado são os erros. É até um ditado popular, “você pode
acertar 99 vezes, mas se errar 1, é desse as pessoas vão lembrar”.
Eu acredito que seja porque a gente (secretários e gestores)
não promovemos muito o que fazemos. No meu caso, eu penso assim: o que fazemos
aqui (na secretaria de educação) é nossa obrigação enquanto funcionários públicos.
Veja que aqui temos um expediente que em alguma vezes vai até sete da noite,
porque ficamos até a hora que achamos necessário para cumprir o que queríamos
para aquele dia, porque aqui a gente assumiu esse compromisso. Então esses
resultados que obtivemos não veio de agora, foram sendo construídos com o
compromisso que assumimos e que pouca gente nota porque encaramos como nossa obrigação.
Enquanto professor vejo o quanto a situação é difícil para nós da educação. Não é só a questão salarial, que eu volto a dizer, é importante, porque o professor precisa ter uma condição de vida confortável, mas tem muito mais coisa envolvida. No Ceará mais de 70 escolas ficaram entre as 100 melhores do país, então não é só salário, tem mais coisa a ser resolvida, Então, Sônia, na sua opinião qual seria o
maior desafio, ou melhor, os maiores desafios para a Educação?
Eu acho que a necessidade de repensarmos o professor, falo
enquanto classe, categoria profissional. Vejo que é preciso pensar na função da
gente, em se valorizar enquanto professor, sabe? Não só como você já disse, na
questão financeira, mas de nos sentirmos valorizados enquanto seres humanos que
somos. E não você ver unicamente a questão financeira e chegar ao raciocínio de
que ganha pouco pelo seu esforço então também vai fazer pouco pelos alunos. Tem
professor hoje que trabalha em três lugares ou mais para manter um padrão de
vida confortável para ele e sua família, só que isso enquanto ser humano
provoca um desgaste. Esse é um desafio para nós, valorizar o professor enquanto
profissional e enquanto ser humano.
Na parte administrativa mesmo, o grande desafio será
enfrentar essa redução de financiamento pelo qual estamos passando. No Programa
Novo Mais Educação, por exemplo, tínhamos 11 escolas e perdemos uma; no valor
que recebemos por Unidade Executora, que você bem conhece, o valor também foi
reduzido e isso prejudica o nosso trabalho.
Os valores estão
sendo reduzidos, mas os custos aumentam a olhos vistos.
O custo aumenta. Na verdade o custo de tudo aumenta.
Enquanto o salário aumenta um pouquinho, os materiais de consumo aumentaram
várias vezes. Se falarmos da merenda escolar, a verba é de R$ 0,34 (TRINTA E
QUATRO CENTAVOS) por aluno. Você não pode ofertar uma merenda ruim, se oferta
algo mais simples, o pessoal não gosta. Então a prefeitura tem de arcar com uma
contrapartida e ficamos engessados para fazer os investimentos que gostaríamos,
porque a prefeitura tem seus limites. Se o governo só pode passar trinta e
quatro centavos o município pode arcar com quanto sem descumprir a lei dentro
de todos os seus outros compromissos?
É uma coisa que digo
sempre nesses tempos difíceis. O grande desafio para os gestores é fazer mais
com menos porque a conta desse teto de gastos vai chegar para todos nós.
Isso, fazer mais com menos, porque não podemos retroceder.
Sônia, gostaria que você
pudesse concluir com uma fala voltada para os professores.:
Eu quero estender esses agradecimentos que recebemos esses dias
aos professores. Nós da secretaria trabalhamos muito, mas o professor na sala
de aula é quem faz o verdadeiro trabalho. O trabalho em sala de aula, dia após
dia, é que produz esses resultados porque o professor é que tem essa capacidade
de transformar as pessoas. Agora, nós, professores, precisamos nos valorizar
enquanto seres humanos e também diante das outras classes profissionais. Nós
somos profissionais que qualificam, que formam e que instruem o ser humano.
Então, se ficarmos presos unicamente ao financeiro, esquecemos do aspecto
humano. A gente precisa sim do trabalho, do dinheiro, de uma situação
financeira agradável, mas também precisamos pensar na formação do humano,
porque somos profissionais que forma cidadãos. E esse cidadão precisa ser
auxiliado para que ele desenvolva a consciência de que pode crescer, e não
crescer apenas financeiramente. Não podemos ser uma classe profissional amedrontada.
Existe uma meta no plano nacional de educação que nós também inserimos no plano
municipal de educação de que o professor tem de lutar por um salário compatível
ao de outros profissionais com o mesmo nível de formação dele. E quem é do
mesmo nível de formação? Um advogado, um médico, que só se formaram porque
passaram por um professor. Então devemos buscar essa valorização.
Suas palavras para o
povo de Venturosa.
Quero dizer que o povo de Venturosa pode continuar
acreditando na educação municipal, e não falo apenas da rede municipal,
considero muito as outras escolas que fazem um trabalho tão eficiente quanto o
nosso. Há muitos profissionais admirados que saíram daqui, de Venturosa, das nossas
salas de aula. A educação de Venturosa cresce muito com o esforço do professor,
dos auxiliares e de todos que trabalham nas escolas e é por isso que alcançamos
esse destaque em relação a outros municípios.