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Imagem da morte de uma estrela |
Dilma cometeu uma série de erros imperdoáveis. Uns de natureza econômica, outros política e alguns de cunho pessoal.
O ex-ministro da economia, Delfim Neto, apontou dois erros cruciais na economia: a redução da tarifa na conta de luz em momento equivocado e a intervenção no mercado tentando forçar a diminuição dos juros quando todos os indícios apontavam que isso não deveria ser feito. O preço foi alto e quando a conta chegou o povo chiou.
A recessão econômica piorou tudo isso e a popularidade da presidente começou a despencar.
No campo político Dilma tentou manter a governabilidade com históricos oportunistas sanguessugas. Além disso, descartou o apoio que as massas populares lhe deram fazendo em seu segundo governo tudo o que prometeu em palanque que não faria nem que a vaca tossisse. Ao que parece, a vaca tossiu e sufocou.
Dilma alterou direitos trabalhistas que davam acesso ao seguro desemprego, promoveu o arrocho, aumentou o preço da gasolina (represado em ano eleitoral) várias vezes em poucos meses.
A crise econômica brasileira foi agravada pela queda no preço internacional do barril de Petróleo com o fim dos embargos ao Irã e algumas manobras dos países produtores, aliada a forte retração da economia chinesa. Mas nossos jornais atribuem tudo à corrupção de um partido e a presidente não consegue mais ser ouvida pelos mais de 50 milhões que lhe deram o voto.
Dilma errou ainda mais na política. As oligarquias nunca engoliram Lula e como sua sucessora, embora seja reta e integra não possui traquejo entre serpentes e raposas que inviabilizaram seu segundo governo desde o dia da posse.
Dilma bateu de frente com Eduardo Cunha. Na verdade foram seus erros no articulação política que permitiram sua eleição como presidente da Câmara. O resultado foi a manobra encabeçada por ele e por caciques do PSDB e do DEM para tomar-lhe o mandato. O argumento das pedaladas fiscais é frágil, mas nada que a mídia partidária não resolva.
O juiz Moro, figura ambígua e endeusada, contribuiu muito com o país investigando e punindo poderosos. Joaquim Barbosa tinha feito o mesmo antes dele, mas Joaquim era comedido, se expressava nos autos e não aparentava ser partidário. Moro parece ter se deslumbrado com os holofotes, fala aos jornais, manda cartas em dias de manifestação, divulga grampos que envolvem governistas (até conversas irrelevantes com esposa e filha) alegando ser de interesse público) mas decreta sigilo em planilhas com fortes indícios de pagamento de propina a grandes figuras de praticamente todos os grandes partidos.
Dilma errou em tentar isolar Michel Temer, acabou ela mesma se isolando. Errou ao não combater os abusos da Lava Jato. Enquanto acertou apenas o PT e a imagem de Lula, Dilma se manteve neutra.
"Cria corvos e eles comerão teus olhos".
Agora o governo está ruindo. As ruas estão divididas, mas as esquerdas estão fragilizadas, rotuladas, perseguidas. Seus ícones formam manchados, picados pela mosca azul. As esquerdas querem defender a democracia, mas estão perplexas com tudo o que testemunharam, desde os abusos dos poderes constituídos a derrocada dos mitos.
O fascismo grita alto, a massa de manobra a serviço da classe-média também, os mais pobres silenciam nos ricões e o governo cai. Tempos difíceis não se anunciam, já chegaram. Dilma não tem mais como resistir. É triste dizer isso, mas é irrefutável.
Testemunharemos uma presidente inocente ser julgada por um tribunal de larápios do erário.
Condenada por uma série de erros estratégicos e políticos, mas há um erro que ela não cometeu e pelo qual não mereceria ser punida: Dilma não furtou verbas públicas, Dilma não tem contas na Suíça, Dilma não apareceu em delações. Dilma não cometeu crimes em seu mandato e não deveria ser impedida de governar por deputados e senadores ansiosos por barras investigações e oferecer um sacrifício para distrair a platéia.
Testemunhamos mais uma vez a multidão aclamando Barrabás. Não comparo Dilma com Cristo, mas o PMDB pode ser comparado a Judas sem nenhum constrangimento.
Não sejamos Pilatos. Não lavemos as mãos diante do sangue inocente (aqui falo do povo brasileiro, em especial dos mais pobres) que será derramado.
Confirmado o Impeachment, que lotemos as ruas para que a Lava Jato não seja como a guerra contra o Iraque, mera ilusão para que os americanos se apoderassem dos poços petrolíferos daquele país, ela deve atingir a todos os envolvidos. Que a lista seja decifrada e divulgada como os grampos familiares e que os tucanos percam suas penas como tentaram tirar da estrela seu brilho.
O governo acabou? Parece que sim, mas o povo, o desejo por liberdade, o amor a democracia e a força para lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva não esmoreceu.
Ela arde movida por paixão e indignação. Talvez por uma santa ira.
Esse é o momento para refletirmos, fazer o exercício da autocrítica. O governo Temer não resolverá nossas brutais desigualdades e contradições. Nem o que virá depois dele.
Essa luta é nossa.
É ela, mais que qualquer líder carismático, qualquer pessoa, qualquer partido, que deve nos motivar.
O governo pode estar próximo do fim.
Nossa luta apenas no começo.