Um circo de horrores.
Houve de tudo na votação pelo impeachment de Dilma.
Profissão de fé, discurso nepotista, apoio a um cínico ladrão e muita, muita hipocrisia.
Nesse show de bizarrices dois personagens atraíram ainda mais atenção. A cusparada de Jean Wyllys, homossexual assumido e voz dos movimentos LGBT's na câmara, na cara de Jair Messias Bolsonaro, parece estar sendo usado para desviar a atenção da canalhice sem precedentes.
Bolsonaro é preconceituoso. Suas declarações não causariam espanto na Itália de Mussolini ou na Alemanha de Hitler. Bolsonaro é mestre em chamar atenção, chega a ter racismo performático, faz guerra com as palavras e entusiasma a extrema direita brasileira saudosa da ditadura.
Antes da cusparada ele fez apologia a tortura, exaltou a ditadura e homenageou o que de pior havia no regime. Um homem que teria torturado a presidente sem crime que está sendo julgada por criminosos.
A fala de Bolsonaro, se nosso legislativo fosse sério, já bastaria para lavá-lo a processo por quebra de decoro no conselho de ética.
Aí depois veio a cusparada.
Jean Wyllys alega ter sido provocado por Bolsonaro, mas as câmeras dos repórteres só flagraram a tentativa de acertar o deputado carioca com uma bola de saliva.
O elemento que faltava para lançar uma cortina de fumaça no desastre que foi a votação presidida por um suspeito de embolsar mais de 50 milhões de propina que usa de manobras para não ser cassado.
Diante da foto de Jean cuspindo em Jair as divisões serão direcionadas para a direita e a esquerda. Quem foi a vítima e quem foi o algoz, quem cultua Guevara comunista fuzilador e quem defende a tortura e o golpe de Estado.
Se Jair for por denunciado por apologia a tortura Jean será pela cusparada. No atual nível do nosso parlamento Jair é absolvido e Jean perde o mandato.
O que se desenrola é maior que a cusparada de Jean. Eu tenho mais medo dos 8% que votam em Jair Messias Bolsonaro e o chamam de Bolsomito que dos lançadores de cuspe quando são vilipendiados em seu direito e ofendidos em sua pessoa.
Bolsonaro defende que apoiadores da esquerda sejam mortos. Que filhos bem educados não se tornam gays ou se casam com negras. Que o melhor do Maranhão é o presídio de Pedrinhas. E essa loucura raivosa tem encontrado terreno no Brasil. E isso é grave.
O impeachment sem crime de responsabilidade direta não será legítimo, presidido por Cunha é ofensivo e aprovado por mais da metade de um parlamento corrupto é escandaloso. Um atentado à democracia brasileira.
O que se assistiu foi o desrespeito ao voto, a quebra das regras por meio de "brechas" legais e um golpe pelo poder. A cusparada foi errada, foi feia, foi rude, mas o que está sendo alimentado por Bolsonaro é pior.
São os porões da ditadura, a caça ao divergente e o fim das liberdades.
No show de horrores que essa nação assistiu a cusparada de Jean é quase uma legítima defesa de um povo que toma escarradas de seus políticos diuturnamente.
E pelo que tenha visto, prefiro as cusparadas do Jean que o discurso do Bolsonaro.
E caso pudesse escolher uma ação para absolver diante de todas as ofensas que vi domingo, a cusparada de Jean será uma coisa muito menor que os sorrisos de Eduardo Cunha.
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