Mais uma vez esse blog tem o prazer de publicar um artigo do psicanalista Daniel Lima. Esse mês o autor aborda o tema da angústia. O mundo atual tem golpeado duramente o espírito humano, impondo padrões quase inalcançáveis de beleza estética e propagando um modelo artificial de felicidade vinculado a capacidade de consumo. Esse clima de constante cobrança, de virtualização da vida, de felicidade aparente tem provocado marcas profundas nas pessoas. Daniel aborda, com o talento e objetividade que lhe são comuns, a angústia na pós-modernidade. Boa leitura!
ANGÚSTIA E PÓS-MODERNIDADE
A ansiedade faz parte da vida das pessoas e acontece devido a um aumento
de tensão inesperado, ou mesmo previsto, sempre que surge algum tipo de ameaça.
Quando a ansiedade é excessiva, corremos o risco de desenvolver distúrbios.
Esta situação pode ser percebida claramente, quando as sombras e os medos
criados interferem na nossa vida pessoal e profissional. Sendo assim, devemos
perguntar a nós mesmos se a ansiedade está nos atrapalhando de modo geral, pois
ela pode se desenvolver em qualquer situação, real ou imaginária. Desta forma,
a ansiedade pode acontecer por inúmeros motivos, no campo dos acontecimentos,
sentimentos ou mesmo comportamentos. As causas mais comuns estão ligadas a
medo, preocupação e pressa.
Nem sempre a ansiedade estará ligada a sintomas físicos. Às vezes, a
pessoa sofrerá um ataque de pânico ou desenvolverá uma fobia sem saber o
porquê. Alguns sintomas psicossomáticos podem ser: palpitações, boca seca,
dilatação das pupilas, falta de ar, transpiração, sintomas abdominais, tremores
e tontura. As reações emocionais incluem irritabilidade, dificuldade de
concentração, inquietação e fuga das situações ou objetos temidos.
Ansiedade é a expressão sintomática de um conflito emocional interno que
ocorre quando certas experiências, sentimentos e impulsos perturbadores são
suprimidos da consciência. Mas os conteúdos mantidos no inconsciente retêm
grande parte da catexia psíquica original. A liberação de lembranças ou
impulsos proibidos, que buscam gratificação, provoca ansiedade por ser ameaçadora
para o ego. O mesmo ocorre quando experiências traumáticas, profundamente
soterradas, assolam o ego, exigindo uma elaboração das suas angústias através
da fala no setting analítico.
Segundo especialistas, o mal dos tempos modernos é a ansiedade, que vem
crescendo de forma rápida e impiedosa, tomando conta do Brasil e do mundo.
Durante décadas esse sintoma foi subestimado, mas hoje se reconhece que ele
pode inviabilizar a vida social e profissional do sujeito. Mesmo assim, poucas
pessoas buscam tratamento para entender a causa antes que cheguem ao limite. De
acordo com dados da Previdência Social, os transtornos mentais já são a
terceira razão de afastamentos do trabalho no Brasil. Nesse contexto, a
ansiedade, assim como a depressão, são os males que mais afetam as pessoas em
nossos dias. Os levantamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram
que atualmente cerca de 33% da população mundial sofre de ansiedade.
Peço licença para, neste texto, trocar a palavra ansiedade pela palavra
angústia. Houve uma discussão ocasionada pela tradução da palavra que Freud
utilizou: angst, traduzida para o Português, na Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, como
ansiedade. No entanto, a Companhia das Letras, em 2014, lançou As Obras
Completas volume 17 e considera mais adequado traduzir como angústia,
expressão própria da Psicanálise.
Sigmund Freud, ao chegar aos 70 anos de idade, lança hipóteses
inovadoras sobre a origem da angústia, que tornam caducas as anteriores. De fato,
durante mais de 30 anos, ele se ateve a uma concepção biológica do mecanismo de
aparição da angústia, segundo a qual, uma libido insatisfeita encontraria uma
via de descarga, transformando-se diretamente em angústia como: “(...) ela
[a angústia] está para a libido mais ou menos como o vinagre está para o vinho”
(Freud, 1905d, nota acrescentada em 1920, p. 168). Ele estudou a angústia em
dois momentos de sua obra. Na primeira formulação, a angústia seria consequente
à repressão, o que provocaria uma libido acumulada que funcionaria de uma
maneira “tóxica” no organismo. A partir de sua monografia inibições,
sintomas e angústias (1926), conceituou de forma inversa, ou seja, a
repressão é que se processa como uma forma de defesa contra a ameaça de
irrupção da angústia.
A sociedade pós-moderna nos impõe condições de vida que favorecem uma
angústia cada vez maior e, por isto, a população deve estar preparada para
lidar com elas. Uma ferramenta essencial, que está à disposição de todos, é a
Psicanálise, um método investigativo do sujeito, que trabalha conteúdos
inconscientes sem o qual o sujeito não é capaz de lidar com frustrações do
passado, que se repetem no presente.
Daniel
Lima – Psicanalista
(87) 99210-5658
Atendimentos:
Rua
Manoel Soares de Melo, 154, Centro, Arcoverde-PE
Casa
São José, Rua Gerônimo Tenório, 17A, Centro, Venturosa-PE