terça-feira, 18 de abril de 2017

ANGÚSTIA E PÓS MODERNIDADE - Artigo do Psicanalista Daniel Lima



Mais uma vez esse blog tem o prazer de publicar um artigo do psicanalista Daniel Lima. Esse mês o autor aborda o tema da angústia. O mundo atual tem golpeado duramente o espírito humano, impondo padrões quase inalcançáveis de beleza estética e propagando um modelo artificial de felicidade vinculado a capacidade de consumo. Esse clima de constante cobrança, de virtualização da vida, de felicidade aparente tem provocado marcas profundas nas pessoas. Daniel aborda, com o talento e objetividade que lhe são comuns, a angústia na pós-modernidade. Boa leitura! 


ANGÚSTIA E PÓS-MODERNIDADE

A ansiedade faz parte da vida das pessoas e acontece devido a um aumento de tensão inesperado, ou mesmo previsto, sempre que surge algum tipo de ameaça. Quando a ansiedade é excessiva, corremos o risco de desenvolver distúrbios. Esta situação pode ser percebida claramente, quando as sombras e os medos criados interferem na nossa vida pessoal e profissional. Sendo assim, devemos perguntar a nós mesmos se a ansiedade está nos atrapalhando de modo geral, pois ela pode se desenvolver em qualquer situação, real ou imaginária. Desta forma, a ansiedade pode acontecer por inúmeros motivos, no campo dos acontecimentos, sentimentos ou mesmo comportamentos. As causas mais comuns estão ligadas a medo, preocupação e pressa.

Nem sempre a ansiedade estará ligada a sintomas físicos. Às vezes, a pessoa sofrerá um ataque de pânico ou desenvolverá uma fobia sem saber o porquê. Alguns sintomas psicossomáticos podem ser: palpitações, boca seca, dilatação das pupilas, falta de ar, transpiração, sintomas abdominais, tremores e tontura. As reações emocionais incluem irritabilidade, dificuldade de concentração, inquietação e fuga das situações ou objetos temidos.

Ansiedade é a expressão sintomática de um conflito emocional interno que ocorre quando certas experiências, sentimentos e impulsos perturbadores são suprimidos da consciência. Mas os conteúdos mantidos no inconsciente retêm grande parte da catexia psíquica original. A liberação de lembranças ou impulsos proibidos, que buscam gratificação, provoca ansiedade por ser ameaçadora para o ego. O mesmo ocorre quando experiências traumáticas, profundamente soterradas, assolam o ego, exigindo uma elaboração das suas angústias através da fala no setting analítico.

Segundo especialistas, o mal dos tempos modernos é a ansiedade, que vem crescendo de forma rápida e impiedosa, tomando conta do Brasil e do mundo. Durante décadas esse sintoma foi subestimado, mas hoje se reconhece que ele pode inviabilizar a vida social e profissional do sujeito. Mesmo assim, poucas pessoas buscam tratamento para entender a causa antes que cheguem ao limite. De acordo com dados da Previdência Social, os transtornos mentais já são a terceira razão de afastamentos do trabalho no Brasil. Nesse contexto, a ansiedade, assim como a depressão, são os males que mais afetam as pessoas em nossos dias. Os levantamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram que atualmente cerca de 33% da população mundial sofre de ansiedade.

Peço licença para, neste texto, trocar a palavra ansiedade pela palavra angústia. Houve uma discussão ocasionada pela tradução da palavra que Freud utilizou: angst, traduzida para o Português, na Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, como ansiedade. No entanto, a Companhia das Letras, em 2014, lançou As Obras Completas volume 17 e considera mais adequado traduzir como angústia, expressão própria da Psicanálise.

Sigmund Freud, ao chegar aos 70 anos de idade, lança hipóteses inovadoras sobre a origem da angústia, que tornam caducas as anteriores. De fato, durante mais de 30 anos, ele se ateve a uma concepção biológica do mecanismo de aparição da angústia, segundo a qual, uma libido insatisfeita encontraria uma via de descarga, transformando-se diretamente em angústia como: “(...) ela [a angústia] está para a libido mais ou menos como o vinagre está para o vinho” (Freud, 1905d, nota acrescentada em 1920, p. 168). Ele estudou a angústia em dois momentos de sua obra. Na primeira formulação, a angústia seria consequente à repressão, o que provocaria uma libido acumulada que funcionaria de uma maneira “tóxica” no organismo. A partir de sua monografia inibições, sintomas e angústias (1926), conceituou de forma inversa, ou seja, a repressão é que se processa como uma forma de defesa contra a ameaça de irrupção da angústia.

A sociedade pós-moderna nos impõe condições de vida que favorecem uma angústia cada vez maior e, por isto, a população deve estar preparada para lidar com elas. Uma ferramenta essencial, que está à disposição de todos, é a Psicanálise, um método investigativo do sujeito, que trabalha conteúdos inconscientes sem o qual o sujeito não é capaz de lidar com frustrações do passado, que se repetem no presente.

Daniel Lima – Psicanalista
(87) 99210-5658
Atendimentos:
Rua Manoel Soares de Melo, 154, Centro, Arcoverde-PE

Casa São José, Rua Gerônimo Tenório, 17A, Centro, Venturosa-PE

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