O professor Pedro Henrique Torquato nos brinda com mais uma valiosa contribuição para esse BLOG. Com sua sensibilidade artística e a criticidade típica do bom professor, ele nos traz uma nova forma de olhar e interpretar cenas do nosso cotidiano. Boa leitura!
Das escravidões cotidianas
Na busca pelo pão
A luta pelo dinheiro
Trabalhar o dia inteiro
E não ter o que comer
Na luta pela sobrevivência
Seguindo a tenencia
De apenas sobreviver
Nós lutamos
Morremos
Sem à vida viver
O que nos aprisiona?
O dinheiro
O trabalho
O medo
A rotina
A beleza
De quem ou de que você é escravo?
Chega a
terça-feira me levanto às três horas da manhã para ir trabalhar, como faço
todas as semanas. É cansativo, mas não
desisto, mesmo no sol quente me fortaleço a cada dia. Trabalho, não posso dizer
que não cansa, porque cansa muito. Trabalho da madrugada até o meio dia porque
vou a escola e se sair cedo volto para a feira. Pior é quando não tem aula porque temos que trabalhar o dia todo sem
descanso.
Assim
que eu chego vou comer alguma coisa e vou mais os meninos descarregar o
caminhão com as caixas de verduras. São um pouco pesadas, mas eu gosto de
carregar. Depois disso vamos empacotar as verduras e, por ultimo, é só esperar
os fregueses que chegam junto ao amanhecer. Daí vamos vendendo, vendendo,
vendendo, até chegar a hora do almoço. Nós vamos comprar a comida, almoçamos e
voltamos de novo para a banca.
Temos
que animar os clientes para que eles venham comprar... ganho meu dinheiro, é
pouco, mas dá para ajudar, e muito, a mim e a minha família e isso me deixa
feliz. Não me importo Trabalhar
na feira é uma experiência de vida. Embora muita gente não acredite, às vezes é
bem legal. Estamos sempre sorridentes, não ficamos tristes por nada... e passa o tempo da gente, pois é a
vida.
Tem
muita gente que ri e tira onda. Eu digo isso porque já passei por essa
situação. Meus colegas me viram na feira, passaram
por mim e fingiram que não me conheciam, viraram a cara, mas eu nem ligo
para isso.
Tem
outras coisas também mas só saberão quando passarem por esse tipo de
trabalho...
Sou cheia de sonhos, tenho fé que vão
se realizar, quero me formar e dar uma vida melhor a minha família e
principalmente a minha mãe, que foi quem me deu a vida e sofreu para me ter.
Não
deixarei de ir para a feira, para lembrar da minha infância... meus irmãos
também trabalham lá, e assim como eu não reclamam... vai ser difícil ter que um
dia dizer adeus... para quem começou a trabalhar cedo, desde os sete anos.
Aprendi a superar meus medos e a ser um
pouco indiferente, vejo as coisas com mais clareza. Temos escolhas a fazer. Eu tenho que agradecer às pessoas que me
chamaram para trabalhar, são uns anjos, pois estávamos passando por
necessidades, minha mãe queria fazer de tudo para nos dar as coisas mas não
tinha dinheiro para comprar... mas agora melhorou um pouco.
É assim
toda terça-feira, enfrentando o sol e o frio, mas não desisto.
Sou
brasileira, sou pernambucana, sou Venturosa... não sinto vergonha.
Feliz,
todo mundo precisa trabalhar e ser alegre
A. P. M. 14 anos
Obs. Faltou a maioria das minhas
aulas... estava trabalhando...
O professor Pedro Henrique Torquato é professor da rede municipal de Venturosa tendo lecionado em vários colégios particulares e em cursos de preparação para vestibulares. Tem várias de suas fotografias publicadas nas páginas e perfis oficiais de jornais de nosso estado.