domingo, 24 de julho de 2016

ELA

She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows of the past 
That I'll remember till the day I die


Pelo retrovisor dessa vida que segue a vi com a mesma beleza de quinze anos atrás. Bochechas rosadas e proeminentes, riso fácil e olhos de menina num corpo que começava a se transformar no de uma mulher. Essas lentes sempre te aumentam a beleza, porque naqueles tempos te olhava como Ícaro a contemplar o céu e quando te encontrei, tal como ele, não ouvi os conselhos do meu pai. “Não voe perto do sol, tuas asas são de cera”. Como não contornar as estrelas de teus olhos? O que fazer para não ser atraído pela tua gravidade? Voei mais alto do que podia, bem mais que devia, e como Ícaro, tive minhas asas de cera derretidas pelo calor do sol, ou melhor, não teriam sido elas destruídas pelo frio antártico de um coração de gelo?

Não posso dar meia volta no carro que me guia. Os anos vão nos distanciando e a imagem no retrovisor fica menor, mas não menos viva. Como se a vida fosse um círculo, nos reencontramos. Seus olhos ainda eram estrelas, mas não possuíam o mesmo brilho. As feridas da queda estavam cicatrizadas, mas em noites frias ainda doíam. Seu coração agora batia apressado e com medo da idade ou da solidão. Dançamos e pude sentir mais que seu corpo, voei como falcão e não mais como um pardal. Dessa vez seu coração era primavera e o meu inverno. As rosas que tentou oferecer não resistiram ao frio.

Em outra volta nos encontramos. Nem beleza, nem brilho. Aparência de amizade. Só depois pude compreender que não fora meu coração que havia se tornado gelado em determinado momento, ele apenas aguardava por Ela. Aquela mulher que todo homem deve ter em sua vida, a que pode ser benção ou maldição, a que nos faz conhecer o céu ou inferno, o prazer e a dor, a coragem e o medo. Ela que é a amiga, a namorada e a amante. A que submete nosso corpo porque nos conquistou a alma. 

Ela é aquela que se carrega na mente e no coração até o dia da morte, aquela a qual o nome insiste em escapar dos nossos lábios nos momentos de dor, que nos serve de comparação para todas as outras, aquela que assombra os dias de solidão e que está presente nos sussurros sinceros de prazer com amores fingidos.


É ela!
Então se hoje te vejo por um retrovisor é porque persigo esta outra mulher, que na verdade é a única mulher.
Esta que temo como a quem teme uma divindade.
Esta, a única que amei e amarei nesta vida.
Ela.
Sempre ela.

Emerson Luiz

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