UMA CRÔNICA SOBRE ÁGUA, ESPERANÇA E OPORTUNIDADES PERDIDAS: INGAZEIRA

Barragem da Ingazeira - Nilton Santos

Tem coisas que só Nordestino sabe admirar. O coaxar dos sapos, o som de pingos d'água caindo em telhas de barro, uma aranha caranguejeira caminhando no meio da estrada em busca de um lugar alto ou um gavião peneirando. Isso tudo só quem é do nordeste entende. Nós de Venturosa sabemos olhar cada uma dessas coisas com seu devido valor, mas tem algumas imagens que falam mais alto ao nosso coração. Primeiro são as cheias dos nossos rios que nos levam a sorrir como crianças e agora o momento que muitos de nós esperava a mais de meia década: ver a água lavando o sangrador da Barragem da Ingazeira.

A imagem registrada pelo amigo Niltinho, um dos melhores fotográfos da cidade, captura essa beleza. Hoje muitos dos filhos de Venturosa foram como em romaria até a barragem, agradecer a Deus e testemunhar o milagre da vida que se renova. A Ingazeira cheia, transbordando, é benção para o nosso povo. A colônia de pescadores festeja e todos os habitantes da cidade também. É o fim da dependência dos carros pipas, é dinheiro que volta para o orçamento familiar. Para o agricultor é a volta do emprego, do plantio de tomates, do pasto para o rebanho. É a volta do orgulho para os que sabem dar valor ao trabalho honesto.

Nosso povo é trabalhador! Venturosa tem sido construída ao longo desse mais de meio século pela contribuição dos seus filhos, homens e mulheres de bem que querem prosperar aqui, mas que sofrem com as estiagens e com a pouca oferta de empregos e oportunidades. Água é vida e é emprego e trabalho.

Mas infelizmente nossa barragem que nos enche de alegria e esperança é vítima de descaso por parte de sucessivos governos. Não vou jogar a culpa no governo municipal, seria muito fácil e falho de minha parte. O governo municipal não tem recursos nem autonomia para uma empreitada dessas, mas também não posso me esquivar de perguntar porque nossos sucessivos prefeitos que viram essa barragem secar não usaram do seu prestígio político junto ao governo do estado para que ele realizasse essa obra, e se o fizeram, porque não informaram ao povo o motivo de não serem atendidos? 

Hoje temos a promessa de uma nova barragem. Torço para que ela saia do papel o mais breve possível. Com uma oferta viável de água nossa atividade comercial e industrial cresce, mas não é só nisso que devemos pensar. Um provérbio diz que só se percebe o valor da água quando a fonte seca. Em mais de trinta anos vi essa barragem secar completamente duas vezes. Nas duas vezes ouvi os mesmos discursos para legitimar a falta de cuidado com ela.

Que venha a nova e grande barragem, mas que saibamos valorizar a que temos e que por enquanto é a nossa única fonte de água. Louvemos a Deus pelas suas bençãos, nos alegremos com a água que sangra e enche nossos olhos de lágrimas de contentamento, mas não esqueçamos de que quem ama cuida. Cuidemos da Ingazeira!