segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O MITO VISITA PERNAMBUCO


Entre os significados da palavra mito estão: relato fantástico de tradição oral, ger. protagonizado por seres que encarnam as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana; lenda..

Na última semana o mito visitou o estado de Pernambuco. Poucos conseguem despertar, na mesma proporção, ódio e admiração das massas. Pela sua trajetória de menino retirante pobre, passando pelo sindicalismo e chegando até a presidência da república, colecionando polêmicas, sendo citado em escândalos e acusado de corrupção, visto como perseguido pela justiça por muitos, taxado de ladrão e da pai dos pobres, Lula carrega em si a força do mito moderno.

Em peregrinação pelo Nordeste, onde claramente busca fortalecer suas bases e unificar partidos inclinados à esquerda, Lula tem atraído multidões por onde passa. Enquanto na Bahia há ovos sendo disparados contra o prefeito de São Paulo, João Dória, o ex-presidente recebe títulos, abraços e o carinho do povo nordestino.

Isso se explica. Mesmo citado em processos e condenado a nove anos pelo juiz Moro, o povo associa sua ascensão social à Lula. "Antes dele a gente não tinha nada", afirmou uma dona de casa na Bahia de todos os santos. Foi durante o governo Lula que os gastos com programas sociais foram elevados e o consumo das classes mais humildes cresceu. Programas como Bolsa Família e Luz para Todos mudaram a cara de muitos municípios nordestinos. Também foi durante os governos de Lula que os filhos das famílias mais humildes passaram a ingressar na faculdade e que essas famílias saíram do aluguel para casas próprias.

Mesmo com a Lava Jato, que antes só mirou o PT e depois chegou a outros partidos, muitos enxergam Lula como um perseguido político. "Esse juiz não quer que Lula volte aí fica fazendo isso", me disse um amigo agricultor esses dias quando falávamos de política. "Só quem deu valor para a gente foi Lula". O governo desastroso de Dilma não causa mágoa nos fãs de Lula. As políticas elitistas e antipopulares de Michel Temer, a recessão e a percepção de que ele massacra o povo para garantir apoio de políticos parece ter confirmado em muitos a tese do golpe contra a presidente.

"Você viu aquela nojeira?", me disse uma dona de casa logo após a votação que impediu que a investigação sobre Michel Temer prosseguisse, "são todos safados. Tiraram uma mulher honesta para e se vendem para defender esse bandido". 

O mito em torno de Lula é mantido não apenas pelos nordestinos. Nas últimas pesquisas de intenção de voto o petista lidera todos os cenários e se não for impedido pela justiça de concorrer à presidência tem chances de vitória. Lula sobrevive politicamente por seu carisma, pela lembrança do bom momento em seu governo e pela incapacidade de seus adversários de gerarem o sentimento de esperança na maioria da população.

Ciro, Dória, Alckmin, Bolsonaro e demais pré-candidatos também percorrem o Brasil para divulgar suas ideias e se preparam para os debates do ano que vem, onde podem crescer diante da opinião pública, mas nenhum carrega nesse momento a aura mítica do ex-presidente.

O outro mito, o Bolsonaro, tem pontuado bem nas pesquisas por emular de forma simples e falaciosa a solução da violência com mais violência e agregado o fanatismo religioso, a neurose da extrema-direita e o antilulismo. Esse mito pode ser destroçado no meio da campanha, quando seu despreparo ficará mais evidente. Acredito que o candidato mais à direita que concorrerá com chances de contribuir para o Brasil seja Geraldo Alckmin. Marina Silva não se pronunciou nem quando Michel Temer golpeou as florestas para entregá-las para empresas mineradoras. Álvaro Dias também é um bom quadro, mas está sendo convenientemente esquecido pela mídia.

2018 se aproxima a passos largos. O mito Lula ainda resiste, e mesmo se for apeado pela justiça hoje vista como tendenciosa, poderá, como nas histórias antigas, dar seu favor a outro guerreiro. A nós, por enquanto, cabe a análise e a esperança de que ainda haja Brasil após a passagem de Michel Temer. 

Não faço mais parte do grupo que vota em Lula, acredito que o Brasil precisa mudar para crescer, mas não consegui encontrar um título melhor para esse post. Quando conversava com um amigo, um cara instruído e muito inteligente e que foi ao encontro de Lula em Recife, perguntei como havia sido o ato.

"O homem é um mito". O título nasceu daí.

Ciente do seu papel, Lula declarou recentemente em uma entrevista ao escritor Pablo Vilaça:

"Se eu não for candidato, eu quero ser um cabo eleitoral muito forte. Serei forte como candidato, como cabo eleitoral, serei forte em liberdade ou preso, vivo ou morto".

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