A Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, não só apontou para a existência de um suposto esquema de corrupção entre frigoríficos e fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, como colocou em dúvida a qualidade dos produtos vendidos por duas gigantes brasileiras do setor de carnes: JBS, dona das marcas Friboi Seara e Big Frango, e a BRF, dona da Sadia e Perdigão. A notícia de que as empresas pagavam propina para vender carnes vencidas ou adulteradas com produtos químicos —o que tanto a JBS quanto a BRF negaram— fez com que as ações dos frigoríficos despencassem mais de 8% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) até o início da tarde sexta-feira. Além das duas gigantes do setor, outras 29 companhias também são alvo da operação.
Tão logo foi noticiado, o suposto esquema de corrupção para vender carnes podres também despertou a desconfiança dos consumidores: sobrou até para o ator Tony Ramos, garoto-propaganda da Friboi, que tornou-se alvo de memes nas redes sociais e se disse "surpreso" com o esquema, em entrevista ao site Ego, da Globo —vegetarianos estão sendo felicitados por não comerem carne e, assim, estarem imunes ao esquema de fraude. Parte dos alimentos adulterados teriam sido fornecidos para alunos da rede pública do Paraná. A investigação também revelou a reembalo de produtos vencidos.
A polícia pegou gente graúda nos grampos dessa operação.
O ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), empossado no cargo no início deste mês por Michel Temer, é citado em uma ligação telefônica interceptada pela Polícia Federal durante as investigações da Operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira (17) para apurar o pagamento de propinas por parte de frigoríficos a fiscais agropecuários.
Na gravação, Serraglio conversa com Daniel Gonçalves Filho, fiscal agropecuário e superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016 – apontado pela PF como sendo "o líder da organização criminosa" que relaxava a fiscalização dos frigoríficos em troca de propinas.
A ligação teria acontecido em fevereiro do ano passado, quando Serraglio exercia o mandato de deputado federal. Ele teria ligado para o fiscal para conseguir informações sobre uma ação contra o frigorifico Larissa, localizado em Iporã (PR), que pertence a paulo Rogério Sposito, que se candidatou ao cargo de deputado federal pelo PPS em 2010.
O ministro se refere ao fiscal como "grande chefe". "O cara que está fiscalizando lá apavorou o Paulo, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico...Botou a boca. Deixou o Paulo apavorado", diz Serraglio na gravação.
Gonçalves Filho então entra em contato com a fiscal responsável pela fiscalização e, na sequência volta a falar com Serraglio dizendo que não há nada de errado com a empresa. Sposito, dono do frigorífico, é um dos investigados e teve um mandado de prisão preventiva expedido contra si na operação deflagrada nesta sexta-feira.
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