domingo, 10 de setembro de 2017

EDUCAÇÃO EM VENTUROSA É DESTAQUE REGIONAL. CONHEÇA OS RESULTADOS DAS ESCOLAS ESTADUAIS E CONFIRA A ENTREVISTA COM A SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, SÔNIA DIÓGENES TENÓRIO

EDUCAÇÃO É COISA SÉRIA. Se o Brasil tratasse de educação com a seriedade com que parece falar dela, com certeza não estaríamos atravessando uma grave crise ética, política e econômica. A visão sobre área começou a mudar em Pernambuco nos últimos 12 anos. Com a implantação de uma política educacional diferenciada, com foco em metas e resultados, passamos do 21º lugar do país, ranking que ocupávamos em 2007, para o 1º lugar do país em 2015 no Ensino Médio.
Esse ano o estado mais uma vez alcançou uma média superior à média nacional. Esse resultado pode ser comemorado com ressalvas. Ainda falta muito para atingirmos o nível dos países mais desenvolvidos, nossos alunos, no geral, apresentam dificuldades em matemática e na língua materna, mas as mudanças já podem ser sentidas.

A EDUCAÇÃO DE VENTUROSA FOI DESTAQUE NA REGIONAL DE ARCOVERDE. No ranking regional a Escola de Referência em Ensino Médio Quitéria Wanderley Simões obteve o 7º lugar, com um índice de 4,80 no IDEPE.

A ESCOLA CÔNEGO EMANUEL VASCONCELOS aparece na planilha com o segundo lugar entre as escolas de Ensino Fundamental, tendo alcançado 5,25 no IDEPE. A escola Cônego merece destaque não apenas pelo alto índice alcançado, mas pelas adversidades que enfrenta há vários anos. Seus professores e alunos estão sujeitos as dificuldades de salas apertadas, falta de espaço para atividades esportivas, biblioteca em prédio separado da escola e esperam o cumprimento das promessas do governo estadual de lhe entregarem um prédio próprio.
Só a dedicação de sua equipe gestora formada pelas professoras Maria Rosely, Elaide Francisca e Joelice Maria, dos seus professores, porteiros, merendeira e auxiliares e a confiança dos pais unida ao esforço dos alunos justificam essa nota. A todos da escola os meus mais sinceros parabéns!

A REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO OBTEVE O PRIMEIRO LUGAR no ranking das escolas que ofertam os Anos Finais do Ensino Fundamental, com 4,5 no IDEPE, e o terceiro lugar nos Anos Iniciais do Ensino Médio, com 4,7 no IDEPE. Esse resultado tem sido construído ao longo dos últimos anos. Então, para melhor compreender o trabalho que vem sendo desenvolvido no município, o blog entrevistou a secretária municipal de educação, a senhora Sônia Diógenes Tenório.
A rede municipal atende 2.968 alunos, espalhados por 26 creches e escolas nas várias regiões do município. Na sede da secretaria, 11 funcionários trabalham diretamente com o monitoramento de programas e na coordenação desses programas e na formação continuada dos professores da rede. Logo na sala recepção, nos deparamos com a seguinte frase: ‘A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para transformar o mundo”, uma fala do líder sul-africano Nelson Mandela.
Na entrevista que você confere a seguir, conversamos com a secretária Sônia Tenório para conhecer um pouco mais sobre a educação municipal de Venturosa. Boa leitura.
 
Secretária de Educação Sônia Tenório

Sônia, você é secretária de educação há um certo tempo. Vários anos nessa função lhe deram experiência e uma visão privilegiada da estrutura da educação municipal. Podemos dizer que essa experiência influiu para a obtenção desses resultados?

Com certeza, Emerson. Quando a gente leu o resultado eu convoquei todos os diretores, porque nem sempre a gente tem contato com todos os colegas, porque são colegas professores, aí eu disse a eles que estendessem o meu cumprimento a todos os professores, porque eu acredito que a secretaria de educação tem a sua parcela de responsabilidade, mas eu acho que quem faz mesmo é o professor na sala de aula. Os parabéns, os agradecimentos que vem para a gente tem que ser extensivos aos professores, porque eu sou professora. Então eu penso assim, na minha sala de aula, o que eu faço com meus alunos é independente se a secretaria está lá todos os dias ou se não está. Agora, eu também reconheço que nós temos uma equipe aqui na secretaria de educação muito comprometida. Nós temos problemas, claro, mas o compromisso é essencial. Você cumprir com seu horário, com o que é estabelecido na escola, isso dá resultado. Nós temos muitos colegas que não estão satisfeitos com a profissão, mas nós temos outros tantos que são encantados com a profissão e nós trabalhamos com todos eles. Os que não são a gente procura motivar e os que são, estimular mais ainda. E acredito que isso seja essencial porque nossa categoria de professores é uma categoria que sofre por não ser valorizada pelo conjunto da sociedade.

No caso a autoestima do professor também é um fator que influi na aprendizagem dos alunos.

Eu penso assim. Você vê tantas coisas falando do professor, mas eu não acho isso! As pessoas dizem assim: “não vai ter mais professor daqui há dez anos”, não é assim. Por que todo mundo diz que professor não ganha bem, professor é humilhado, professor é maltratado, mas eu não vejo por esse lado. Todo trabalho que sai de uma sala de aula é para o bom resultado. Nenhum professor vai para uma sala de aula para continuar com seu aluno analfabeto. O professor vai continuar a fazer um bom trabalho porque acredita no que faz e sabe o valor do que faz! O que falta em muitos é justamente o incentivo, a motivação. Por conta de tantos problemas que enfrentamos alguns vão se desestimulando, mas eu acredito muito na profissão do professor e foram justamente os professore que conquistaram esse resultado para o município.

Sônia, sei que você, sua equipe e os professores da rede municipal sempre esperam bons resultados do trabalho desenvolvido, mas esse resultado em particular, primeiro lugar entre as cidades da regional, foi uma surpresa, não foi?

Foi sim, porque como a gente nunca deixa de ter problemas, nas nossas avaliações sempre observamos aquelas salas que apresentam dificuldades, a turma que ainda não está rendendo como a gente gostaria, mas acredito que de tanto que acompanhamos e procuramos obter melhores rendimentos, conseguimos esse resultado que foi inesperado. Nós sabíamos que o rendimento ia ser positivo pelo trabalho desenvolvido na rede, mas ao ponto de numa classificação com todas as escolas das redes municipais você se tornar o primeiro lugar e o terceiro lugar.

Para não confundir o leitor, vamos explicar essas colocações:

Nós alcançamos o primeiro lugar nos anos finais do Ensino Fundamental e fomos terceiro nos anos iniciais.

Na classificação da Gerência Regional.

Sim. Somos dezesseis municípios da regional de Arcoverde e obtivemos esses resultados dentro da nossa regional. Aí  questionaram porque Venturosa não foi receber o prêmio em Recife. Porque não foi uma premiação do estado, que foi entregue pelo governador e que foi feita pelo ranking geral de todos os municípios pernambucanos. Agora na nossa regional, composta por dezesseis municípios, nós ficamos entre os três melhores e eu acho que essa é uma classificação muito boa.

E diga-se de passagem, vocês conseguiram esse resultado com menos recursos se comparados a outros municípios.

Eu ia citar esse realidade. Eu sempre digo aos meus colegas: a gente faz muito com pouco. Você sabe que recurso de educação é para o básico. As vezes você tem de escolher entre adquirir um material de melhor qualidade ou fazer uma reforma em uma escola, dificilmente se consegue os dois em um mesmo momento. O salário do professor já é determinado por lei, mas não podemos esquecer que tem material didático, material de limpeza, temos reformas de escolas, temos de atender toda uma demanda por manutenção.

Eu digo isso porque enquanto professor vejo que nossa categoria sempre tem em primeiro plano a questão salarial, que é essencial, e muitas vezes perdemos o foco de tudo que é preciso para se manter uma escola.

É verdade, mas isso a gente só aprende quando ocupa uma outra função. Por mais que a gente tente explicar ao colega, sempre se percebe o salário como o elemento mais importante e que a prefeitura e a secretaria arquem com o resto. Eu concordo que a questão salarial é importante, mas estamos em sistema que nos engessa e não nos permite fazer como queremos. Se eu pudesse escolher enquanto secretária, eu faria diferente e sei que seria possível.

No caso falamos da remuneração do professor. Se você pudesse, seria melhor?

Principalmente. Agora quando o governo libera recursos, nós vemos que para o pagamento do professor vem aquilo que o governo quer mesmo pagar, aquele piso salarial que ele estipulou e pronto. A gente sabe que poderia ser melhor. Se pudéssemos acomodar melhor nossos alunos e professores, ah, como seria bom! Mas o sistema nos engessou de tal forma que não permite nem que nos manifestemos contra ele.

Quando eu converso com gestores, como no seu caso, sempre pergunto sobre a decisão desse governo federal de limitar os gastos. Na prática vai haver redução. Não é um problema?

Sim, na prática já está muito reduzido. Vamos tentar entender. O município só pode gastar 54% com a folha de funcionários, e isso é uma lei antiga. O fundeb só pode gastar 60%. Como é que o município só pode gastar 54% com todos os seus funcionários e o fundeb  60%, criando uma disparidade, além de que o gestor tem uma série de outras obrigações legais que não permitem fazer da maneira que se quer, mas da forma que é possível. Depois que frequentei várias reuniões e hoje faço parte do grupo gestor da UNDIME a gente passa a ver as outras realidades e perceber que como existem situações melhores, também há municípios que enfrentam situações muito mais difíceis que as de Venturosa. Os municípios menores que estão no nosso patamar tem vivenciado realidades muito difíceis para eles. Eles recebem recursos parecidos, mas não conseguem apresentar os mesmos resultados.

Quem acompanha o blog viu que uma equipe de Venturosa foi ministrar uma capacitação em outro município.
Isso, o município de Aliança. Nossa equipe passou por algumas modificações, mas cinco dos nossos profissionais trabalham juntos desde o ano de 2005, então temos um grupo fortalecido. É comum que quando há troca de prefeitos também haja troca geral nas equipes de alguns municípios e eles ficam meio que perdidos, porque tudo é novo para todo mundo e os programas educacionais tem de seguir com continuidade. Então, Venturosa tem mais esse fator positivo. Sempre que há uma troca de gestores, os municípios menores procuram por Venturosa. No caso da capacitação de Aliança, não foi a primeira vez que fizemos, foi a primeira vez que teve destaque. No caso do programa em questão, o Novo Mais Educação, Venturosa tem se destacado na sua execução, na prestação de contas, nas experiências exitosas com o programa, então, ao apresentar os resultados no começo do ano na Fundação Joaquim Nabuco, a coordenadora do programa perguntou se Kécia e José Leonilo poderiam auxiliar outro município. Aliança foi um desses municípios que trocou toda a equipe e não tinham nenhuma experiência com o programa Novo Mais Educação.
Quando essas trocas de equipe ocorrem, nós das redes municipais procuramos nos ajudar. Eu mesma estive na Pedra, já na administração de Osorinho, para falar sobre Plano Municipal de Educação e Plano de Carreiras e Remuneração. Como nós temos um caminho andado, documento pronto fomos ajudar porque havia lá uma dificuldade nesse sentido.

São ações importantes e pouco conhecidas

Eu sempre digo que a gente faz muito com pouco e que também faz muito e não divulga. É uma falha nossa enquanto secretaria.

Ia tocar nesse ponto. Políticas públicas são muito visíveis porque muitas pessoas dependem delas. E o que fica mais evidenciado são os erros. É até um ditado popular, “você pode acertar 99 vezes, mas se errar 1, é desse as pessoas vão lembrar”.

Eu acredito que seja porque a gente (secretários e gestores) não promovemos muito o que fazemos. No meu caso, eu penso assim: o que fazemos aqui (na secretaria de educação) é nossa obrigação enquanto funcionários públicos. Veja que aqui temos um expediente que em alguma vezes vai até sete da noite, porque ficamos até a hora que achamos necessário para cumprir o que queríamos para aquele dia, porque aqui a gente assumiu esse compromisso. Então esses resultados que obtivemos não veio de agora, foram sendo construídos com o compromisso que assumimos e que pouca gente nota porque encaramos como nossa obrigação.

Enquanto professor vejo o quanto a situação é difícil para nós da educação. Não é só a questão salarial, que eu volto a dizer, é importante, porque o professor precisa ter uma condição de vida confortável, mas tem muito mais coisa envolvida. No Ceará mais de 70 escolas ficaram entre as 100 melhores do país, então não é só salário, tem mais coisa a ser resolvida, Então, Sônia, na sua opinião qual seria o maior desafio, ou melhor, os maiores desafios para a Educação?

Eu acho que a necessidade de repensarmos o professor, falo enquanto classe, categoria profissional. Vejo que é preciso pensar na função da gente, em se valorizar enquanto professor, sabe? Não só como você já disse, na questão financeira, mas de nos sentirmos valorizados enquanto seres humanos que somos. E não você ver unicamente a questão financeira e chegar ao raciocínio de que ganha pouco pelo seu esforço então também vai fazer pouco pelos alunos. Tem professor hoje que trabalha em três lugares ou mais para manter um padrão de vida confortável para ele e sua família, só que isso enquanto ser humano provoca um desgaste. Esse é um desafio para nós, valorizar o professor enquanto profissional e enquanto ser humano.
Na parte administrativa mesmo, o grande desafio será enfrentar essa redução de financiamento pelo qual estamos passando. No Programa Novo Mais Educação, por exemplo, tínhamos 11 escolas e perdemos uma; no valor que recebemos por Unidade Executora, que você bem conhece, o valor também foi reduzido e isso prejudica o nosso trabalho.

Os valores estão sendo reduzidos, mas os custos aumentam a olhos vistos.

O custo aumenta. Na verdade o custo de tudo aumenta. Enquanto o salário aumenta um pouquinho, os materiais de consumo aumentaram várias vezes. Se falarmos da merenda escolar, a verba é de R$ 0,34 (TRINTA E QUATRO CENTAVOS) por aluno. Você não pode ofertar uma merenda ruim, se oferta algo mais simples, o pessoal não gosta. Então a prefeitura tem de arcar com uma contrapartida e ficamos engessados para fazer os investimentos que gostaríamos, porque a prefeitura tem seus limites. Se o governo só pode passar trinta e quatro centavos o município pode arcar com quanto sem descumprir a lei dentro de todos os seus outros compromissos?

É uma coisa que digo sempre nesses tempos difíceis. O grande desafio para os gestores é fazer mais com menos porque a conta desse teto de gastos vai chegar para todos nós.

Isso, fazer mais com menos, porque não podemos retroceder.

Sônia, gostaria que você pudesse concluir com uma fala voltada para os professores.:

Eu quero estender esses agradecimentos que recebemos esses dias aos professores. Nós da secretaria trabalhamos muito, mas o professor na sala de aula é quem faz o verdadeiro trabalho. O trabalho em sala de aula, dia após dia, é que produz esses resultados porque o professor é que tem essa capacidade de transformar as pessoas. Agora, nós, professores, precisamos nos valorizar enquanto seres humanos e também diante das outras classes profissionais. Nós somos profissionais que qualificam, que formam e que instruem o ser humano. Então, se ficarmos presos unicamente ao financeiro, esquecemos do aspecto humano. A gente precisa sim do trabalho, do dinheiro, de uma situação financeira agradável, mas também precisamos pensar na formação do humano, porque somos profissionais que forma cidadãos. E esse cidadão precisa ser auxiliado para que ele desenvolva a consciência de que pode crescer, e não crescer apenas financeiramente. Não podemos ser uma classe profissional amedrontada. Existe uma meta no plano nacional de educação que nós também inserimos no plano municipal de educação de que o professor tem de lutar por um salário compatível ao de outros profissionais com o mesmo nível de formação dele. E quem é do mesmo nível de formação? Um advogado, um médico, que só se formaram porque passaram por um professor. Então devemos buscar essa valorização.

Suas palavras para o povo de Venturosa.


Quero dizer que o povo de Venturosa pode continuar acreditando na educação municipal, e não falo apenas da rede municipal, considero muito as outras escolas que fazem um trabalho tão eficiente quanto o nosso. Há muitos profissionais admirados que saíram daqui, de Venturosa, das nossas salas de aula. A educação de Venturosa cresce muito com o esforço do professor, dos auxiliares e de todos que trabalham nas escolas e é por isso que alcançamos esse destaque em relação a outros municípios.

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