sábado, 8 de julho de 2017

UMA CRÔNICA SOBRE A ESCOLA CÔNEGO EMANUEL VASCONCELOS


Hoje faz uma no que me despedi dos meus alunos e amigos da Escola Estadual Cônego Emanuel Vasconcelos. Dediquei uma década da minha vida a essa escola. Perto de terminar a graduação em História, foi lá que dei as primeiras aulas como professor contratado. Substitui a professora Dores Paes, tia Dores, como chamávamos, que se preparava para sua aposentadoria.

De lá fui para a escola José Florêncio e também trabalhei como funcionário da prefeitura de Venturosa. Ao ser aprovado em concurso fui nomeado e lotado na escola onde comecei a dar aulas. Foi uma sensação muito boa. Conheci pessoas maravilhosas e fiz grandes amizades que carrego até hoje, e muitas delas são de ex-alunos que viraram amigos.

No começo errei tanto quanto acertei, fui ganhando experiência e prática e quis fazer mais. Foi daí que vieram os projetos. Para as mostras de experiências bem sucedidas da rede estadual foram quatro selecionados, um por ano, para o Instituto Cidadania Brasil foram dois, um em segundo lugar e outro em primeiro (esse feito em colaboração com a professora Denise Valério), ambos na categoria Educação de Jovens e Adultos. 

Junto com alunos organizei aulas-passeio para o Parque Pedra Furada, projetos ambientais com enfoque na qualidade da nossa água, onde analisamos água da Ingazeira, visitamos a Fazenda Esperança em ações de combate ao uso de drogas lícitas e ilícitas e também levei turmas para conhecerem o centro histórico de Olinda, O museu de Brennand e o Zoológico. A cidade de Triunfo também foi destino de aulas-passeio. Tantas boas histórias, tantas aventuras, só quem viveu pode descrevê-las.

Uma das coisas que lamento foi não ter conseguido levar uma turma de alunos para uma das aulas espetáculo de Ariano Suassuna, no SESC Arcoverde. Tinha conseguido os ingressos, tratado do aluguel de uma besta, tudo pronto, mas alguém achou que não era interessante e me proibiu de levar a turma. Não tinha sentido levar alunos para ver Ariano. Como me proibiram de levar a turma, aluguei um Táxi e chamei os três alunos que mais gostavam de teatro. Foi caro, mas o prejuízo maior seria não proporcionar o encontro com a cultura e o saber.

Mas a minha maior contribuição para essa escola que tanto amei e amo foi a participação na luta pelo seu prédio próprio. A escola funcionava onde hoje se localiza a escola Jurema, num prédio municipal que foi requisitado pelo executivo. A luta dos profissionais daquela escola deixou de ser apenas pedagógica e passou a ser, também, pela sobrevivência da Cônego Emanuel Vasconcelos. Foi no primeiro seminário Todos Por Pernambuco que expus o drama da escola na plenária educação e fui escolhido para falar diante do governador Eduardo Campos.

Eduardo ouviu o clamor da escola, dos pais, alunos e professores e prometeu atender ao nosso apelo. "Professor, o problema será resolvido". Burocracia e outros problemas atrasaram a compra do terreno. Eduardo morreu e a obra está sendo tocada pelo governador Paulo Câmara.  Para isso houve muita luta e a presença ativa dos educadores da escola nela, como no segundo seminário Todos por Pernambuco, onde toda a equipe de escola se reuniu com o secretário Fred Amâncio e a gestora da GRE, Elma, para falar sobre a escola. O relatório que foi entregue ao secretário foi elaborado por mim, que participei da plenária, só que nesse ano o assunto que mais preocupava os professores era o salário, então, falar sobre uma obra atrasada não rendeu a indicação da categoria.

Naquele mesmo dia, forcei um encontro com o governador Paulo Câmara, como diz o matuto, o "tocaiei" no almoço e insisti. O secretário estava ao lado dele e me tranquilizou. "A escola vai sair". Sonho com essa escola pronta e atendendo as famílias de Venturosa e não é porque não sou mais um de seus professores que desejo isso com menos intensidade.

A obra está sendo realizada com recursos do próprio estado e sofre com demora devido à crise e tantos outros fatores. O secretário Fred Amâncio já a visitou na companhia do prefeito da época, Ernandes Albuquerque, mostrando seu compromisso com a mesma.

Saí da escola, mas ela não sai de mim. Sempre que conversava com alunos da escola, repetia o que ouvia: "a escola saí ano que vem" e ouvia como resposta: "a gente vai terminar o nono ano e a escola não fica pronta". A construção dessa escola é um símbolo de resistência dos seus alunos, pais e professores. Ali está um pouco de cada um, de cada abaixo assinado, de cada ação, de cada prece. Tem um pouco de mim ali também, ou muito, não sei explicar.

Hoje tem gente que se esforça para diminuir essa história ou até mesmo ignorá-la. Acho que do mesmo modo que fui marcado por muitos alunos, também marquei positivamente alguns deles. Podem até tentar condenar a história desse professor ao esquecimento, mas não se destrói amizades reais, sinceras, nascidas da honestidade e do querer bem. Passei dez anos nessa escola, guardo ela no meu coração, não dá para arrancar isso.

Então dedico essa crônica a cada um dos meus alunos, cada um que conheci nesses dez anos. Peço perdão pelos erros, ao mesmo tempo em que torço para que estejam no bom combate para realizar seus sonhos. Que independente de terem se tornado ou estarem se tornando aquilo que queriam na adolescência, possam olhar para trás com orgulho e uma boa saudade.

Passamos por essa escola juntos. Podemos ter saído dela. Ela não saiu de nós.

Emerson Luiz 


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